Farmacêutico News - Especialistas reúnem-se para analisar panorama do uso abusivo de antibióticos em Portugal

O Hospital de Santo André, em Leiria, acolheu a 5.ª conferência deste ano do Centro de Investigação (CI) do Centro Hospitalar de Leiria (CHL), a 21 de junho. Neste encontro a docente e investigadora na área da microbiologia, Prof.ª Doutora Sónia Pereira, alertou para o facto de Portugal continuar no grupo de países com uma maior taxa de utilização de antibiótico, considerando que é "necessária uma prescrição racional de antibióticos". Coordenador do Centro de Investigação do CHL, o Prof. Doutor João Morais deu início à conferência com uma introdução ao tema da conferência “Resistir até morrer… Ou matar? – o multi-problema da multi-resistência antimicrobiana”. O cardiologista destacou ainda que o uso abusivo de antibióticos é uma "preocupação assumida nesta casa, pois é um problema diário da prática clínica e apresenta-se relevante do ponto de vista da investigação". "Infelizmente é um problema que não existe só aqui, mas é nacional e internacional", concordou a Prof.ª Doutora Maria Guarino, membro do CI/CHL e docente do Politécnico de Leiria, que fez seguidamente a apresentação do vasto percurso académico e profissional da Prof.ª Doutora Sónia Pereira. A convidada do CI/CHL fez uma pequena resenha histórica sobre as primeiras descobertas ao nível da microbiologia e do estudo das diferentes bactérias e das suas resistências. A especialista alertou para a problemática da multirresistência das bactérias aos antibióticos, e revelou que se prevê que a principal causa de morte em 2050 sejam as infeções oriundas da resistência aos antibióticos. "As bactérias ficam mais multirresistentes, já que transferem DNA entre elas, e com esses elementos genéticos móveis conseguem sobreviver nos meios onde estão", explicou a oradora. "É premente otimizar as políticas de prescrição, diminuir a contaminação cruzada, reduzir as infeções, bem como a duração dos internamentos, pois permite reduzir custos promovendo altas mais precoces, e reduz-se o risco de contaminação", salienta a investigadora. A Prof.ª Doutora Sónia Pereira considera que "ainda faltam alternativas diagnósticas mais eficazes, e respostas de natureza epidemiológica mais rápidas". "Temos falta de alternativas terapêuticas, novos fármacos e novas abordagens, pois não esqueçamos que o pipeline para os novos fármacos demora cerca de 20 anos. A realidade é que de 100 moléculas que temos numa fase inicial, apenas uma chega ao mercado", explica. No final da conferência, a oradora concluiu que "para tratar bem é preciso diagnosticar bem", acrescentando que "há muito caminho a fazer, em todo o lado". A especialista considera que "é preciso educar a população para mudar as suas rotinas, e todos sabemos que modificar hábitos é muito difícil. A mentalidade até pode mudar mas demora tempo, e no entretanto as bactérias vão ganhando terreno, com mutações de resistência aos nossos antibióticos".