Farmacêutico News - Atualização em Análises Clínicas e Genética Humana da FFUL visa “fazer a ponte entre a academia e a profissão”

A Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa (FFUL) apostou este ano na introdução de cursos pós-graduados de atualização em Análises Clínicas e Genética Humana na procura de promover ensinamentos, aos demais especialistas de diagnóstico, úteis no seu progresso profissional. Com o intuito de conhecer melhor as formações, a Farmacêutico News conversou com a Prof.ª Doutora Leonor Correia, coordenadora destes cursos e presidente do Colégio de Especialidade de Análises Clínicas e Genética Humana da Ordem dos Farmacêuticos. Farmacêutico News (FN) | Este ano decorreram diversos cursos de Hematologia e de Análises Clínicas e Genética Humana, por que motivo nascem estes cursos e o porquê de se apostar nestas áreas do conhecimento? Prof.ª Doutora Leonor Correia (LC) | O primeiro curso de Pós-graduação e Atualização em Análises Clínicas e Genética Humana surgiu em junho deste ano, mas eu já faço regularmente cursos de Pós-graduação e atualização em Hematologia desde 2009. Este ano, em fevereiro, fui eleita presidente do Colégio de Especialidade de Análises Clínicas e Genética Humana da Ordem dos Farmacêuticos (CEACGH-OF). Pelo facto de haver muita falta de programas de formação que aproximem a ciência e a academia à profissão, no meu programa de candidatura anunciei que, juntamente com os outros membros do colégio, iríamos dinamizar e promover formações multidisciplinares e abrangentes, em colaboração com diferentes instituições profissionais, públicas e privadas, nas diferentes áreas das Análises Clínicas, onde se integrariam, também, os já habituais cursos de Hematologia. FN | Qual é a periodicidade de concretização destes cursos? LC | Na realidade não há periodicidade. Em geral, faço vários cursos por ano em função da minha disponibilidade e da dos outros oradores e, também, das disponibilidades de espaços na Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa (FFUL). FN | Os cursos Pós-graduados de Atualização em Análises Clínicas e Genética Humana são realizados com a colaboração dos membros do CEACGH-OF e o apoio de diferentes instituições, de sociedades científicas e profissionais. São creditados pela Ordem dos Farmacêuticos ou têm o seu patrocínio científico. Qual é a participação ativa destas entidades nestes cursos? LC | As sociedades científicas e profissionais, em geral, colaboram no apoio à divulgação. As empresas patrocinadoras, apoiam-nos com material e economicamente, financiando algumas das despesas inerentes. Atualmente, estes cursos estão integrados no plano de recuperação e resiliência (PRR) nacional e também pela União Europeia (NextGenerationEU). FN | O grupo de coordenadores tem-se mantido com o desenrolar dos anos? Pode falar um pouco sobre a equipa? LC | Os cursos de Hematologia, que funcionam desde 2009, foram sempre coordenados por mim e, na maioria deles, tive a colaboração da Dra. Margarida Silveira, na altura diretora do laboratório de patologia clínica do Instituto Português de Oncologia de Lisboa Francisco Gentil (IPOFG). Para os cursos de Análises Clínicas tenho contado com a colaboração de especialistas das diferentes áreas e, também, de diferentes instituições tais com a Dr.ª Vitória Rodrigues da SYNLAB, para a Microbiologia, a Doutora Teresa Fidalgo do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) para a Hematologia Molecular, O Dr. Jorge Queiroz da Aqualab para a Bioquímica, a Dr.ª Filomena Brito do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), para a citogenética e, também, de professores da FFUL, como a Adelaide Fernandes e a Cristina Marques, entre vários outros. FN | Como se renova o interesse das equipas que trabalham e que se dedicam à promoção destes cursos? LC | O interesse é sempre renovado com a introdução de novos temas, novos oradores e novos participantes, além dos já habituais. FN | Quais são os maiores desafios para o desenvolvimento destes cursos? LC | O maior desafio foi o alargamento da abrangência de um projeto já existente, que contemplava apenas a área de Hematologia, e que passou a incluir outras áreas do diagnóstico tais como a Microbiologia, a Bioquímica, a Imunologia, a Imuno-hematologia, a Biologia Molecular e a Genética Humana, entre outras. A multidisciplinaridade dos cursos e a abrangência dos temas permite-nos também captar um público mais diversificado. FN | A quem se destinam estes cursos não conferentes de grau da área da Hematologia e, também, de outras áreas das Análises Clínicas e da Genética Humana e que mais-valias podem os participantes retirar para o seu contexto profissional? LC | Estes cursos destinam-se essencialmente aos profissionais do diagnóstico tais como: farmacêuticos, médicos, biólogos, bioquímicos, técnicos de análises clínicas e de anatomia patológica, entre outros. Também têm sido frequentados por veterinários, estudantes de mestrado e de doutoramento e outros profissionais de saúde. A partilha de conhecimentos que ocorre nestas formações tem-se mostrado muito útil e dinâmica quer para os formandos quer para os formadores. Dado que o objetivo principal deste curso passa por fazer a ponte entre a academia e a profissão, as mais valias obtidas têm a ver com o facto de os participantes inscritos poderem beneficiar de uma informação atualizada, teórica, prática e laboratorial, que os ajuda a desempenhar as suas funções de forma mais esclarecida. Como estes cursos são creditados pela Ordem dos Farmacêuticos, permitem a estes profissionais a acumulação de créditos, necessários para a revalidação das suas carteiras profissionais. FN | Estes são cursos geralmente de curta duração. Em média qual é o número máximo de inscrições que são permitidas? LC | Estes cursos têm tido dois formatos diferentes. Um, com componentes teóricas, teórico-práticas e, eventualmente, laboratórios virtuais, que têm a duração de um dia e que estão limitados a 150 participantes, embora possam ser frequentados por mais. O outro formato, com execução laboratorial individual, está limitado a 32 participantes, que é a capacidade dos laboratórios onde são realizados. FN | Como é feita a escolha temática por parte da coordenação na elaboração dos cursos e quais são os critérios de seleção para abordar determinado tópico? LC | Nas primeiras edições são sempre cursos novos e com temáticas diferentes. O primeiro critério é o seu interesse, tendo por base inquéritos efetuados aos potenciais interessados. Tentamos, também, abordar temas atuais, patologias e conceitos emergentes. Acontece que, quando os cursos esgotam uma primeira edição, depois são feitas outras edições sobre o mesmo tema para poder integrar todos os interessados. Nessas edições posteriores mantêm-se o tema, podendo apenas proceder-se a pequenas atualizações, sobretudo quando medeia algum tempo entre elas e há novidades. FN | Que evoluções técnicas e de laboratório mais se têm desenvolvido e que pretendem acompanhar e ter em atenção com a realização destes cursos? LC | Tentamos abordar as novas tecnologias, nas diferentes áreas da Medicina Laboratorial e, também, os novos biomarcadores de diagnóstico e terapêutica. A saúde evolui no sentido de uma Medicina de precisão e personalizada e o laboratório tem um papel fundamental no estabelecimento do diagnóstico e no seguimento terapêutico. FN | Qual tem sido o feedback quer da própria coordenação como também dos participantes? LC | O feedback tem sido excelente. Eu mantenho a coordenação geral. Faço os programas e escolho os oradores. Em função dos temas escolhidos, tenho a colaboração de diferentes especialistas das matérias em estudo, que ajudam a coordenar os temas da sua área. Tem sido uma experiência muito gratificante para todos os intervenientes. O feedback dos participantes não podia ser melhor. Fazemos inquéritos de satisfação para apurar pontos fortes e fracos. E, de um modo geral, a classificação por eles atribuída a estes cursos é muito próxima da máxima. É este apoio e entusiasmo por parte deles que nos incentiva a ir mais além, apesar das dificuldades. FN | Para o próximo ano, que temáticas planeiam ver abordadas? LC | Há vários temas, das diferentes áreas da Medicina Laboratorial, que estão previstos para serem abordados no próximo ano, tais como: Imuno-hematologia e Imunohemoterapia, Microbiologia de produtos respiratórios, doenças autoimunes, discrasias plasmocitárias, neoplasias linfoides, neoplasias mieloproliferativas e mielodisplásicas e diagnóstico de nefropatias. Haverá também uma 2.ª edição de “Laboratório de Hematologia: citomorfologia das hemopatias” e de “Laboratório de Microbiologia: Produtos urogenitais”. FN | Enquanto coordenadora, que marca pessoal tem tentado imprimir com a concretização destes cursos? LC | A minha primeira preocupação, quando elaboro o programa de um curso, é que ele seja o mais útil possível e que ajude os formandos a trabalhar no seu dia a dia de forma mais competente e esclarecida. Essa é a minha grande preocupação.