Farmacêutico News - “Parece-me inconcebível que o farmacêutico tenha um posicionamento satélite”

De que forma é que o farmacêutico comunitário pode fazer a diferença numa pessoa com enxaqueca? Este foi o mote do webinar, promovido pela Pfizer, que decorreu a 30 de novembro. A Prof.ª Doutora Filipa Duarte-Ramos, farmacêutica e professora na Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, partilhou a importância da articulação e da multidisciplinaridade entre a farmácia comunitária e os especialistas de Medicina Geral e Familiar e Neurologia: um trabalho conjunto em prol da melhoria da qualidade de vida do doente com enxaqueca. Assista à entrevista. A enxaqueca é uma condição que está frequentemente subdiagnosticada e, por isso, subtratada. Muitas pessoas desconhecem até que têm esta patologia, com “um compromisso importante na sua qualidade de vida”, muitas vezes até incapacitante para impedir de trabalhar e de atuar no seu quotidiano. Perante estes desafios, o farmacêutico apresenta um papel fundamental para a pessoa com enxaqueca, um termo que por vezes é utilizado de forma incorreta. “Na farmácia, apercebemo-nos do doente que recorrentemente procura analgésicos e que se queixa de dores de cabeça e, muitas vezes, até verbaliza que tem enxaqueca.” Os analgésicos em excesso deixam de ser solução para o problema, constituindo “um risco de saúde pública que contribui para as enxaquecas crónicas”. O farmacêutico, além de dar apoio ao doente quando se dirigem à farmácia, deve também focar-se na “avaliação e monitorização da adesão à terapêutica”, considerando que, quando não existe esta adesão, “a probabilidade de falhar é muito maior”. Para isso, o contacto com o médico para agilizar o processo torna-se também primordial. Antes de o doente ter contacto com o médico de Medicina Geral e Familiar e com o neurologista, recorre em primeira instância ao farmacêutico. A Prof.ª Doutora Filipa Duarte-Ramos destaca três aspetos para os quais devem estar atentos: “o doente que se queixa que acorda durante a noite com enxaqueca; o doente que está medicado, mas não sente alívio na enxaqueca; e a utilização excessiva de medicação analgésica.” Perante estes três cenários, o farmacêutico deve referenciar ao especialista para o doente ser acompanhado rigorosamente. Tal como demonstrou o webinar, o farmacêutico, o médico de Medicina Geral e Familiar e o neurologista devem trabalhar em conjunto, numa rede de referenciação, com um trabalho multidisciplinar. Para isso, a especialista acredita que o papel do farmacêutico comunitário deve ser “reposicionado no sistema de saúde e na articulação com os demais profissionais”. E acrescenta: “Parece-me inconcebível que o farmacêutico, sendo um profissional de saúde altamente capacitado, tenha um posicionamento satélite, como muitas vezes tem e que viva na sua farmácia e que não interaja de forma direta com um médico.” Por fim, a especialista acredita que “o farmacêutico está disponível para o utente, com uma formação e informação altamente diferenciados que permitem ter um papel de charneira entre o doente e o prestador de cuidados de saúde”. Portugal apresenta uma vasta rede de farmácias comunitárias acessíveis a toda a população, pelo que o doente não precisa de se conformar com a enxaqueca. “O doente não deve desistir, o doente não tem de ter enxaquecas”, reforça. Para esta patologia, existem múltiplas abordagens em prol de um compromisso com a sua qualidade de vida, pelo que realça a importância da multidisciplinaridade e articulação: “Os médicos reconhecem este nosso papel privilegiado junto dos utentes e a necessidade do nosso contributo para que eles próprios possam prestar os melhores cuidados, para que a população possa ter o melhor potencial de saúde, que é isso que todos queremos.”