Farmacêutico News - Estudo inovador conduzido pelo CHVNG/E avaliou impacto dos custos indiretos associados ao tratamento do mieloma múltiplo

Integrada no programa científico da 10.ª Reunião de Oncologia da APFH, a sessão "Desafios atuais no mieloma múltiplo em recaída ou refratário", promovida pela Takeda, contou com a preleção do Dr. Henrique Coelho, diretor do Serviço de Hematologia do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho (CHVNG/E), a quem coube apresentar os resultados de um estudo inovador que avaliou o impacto dos custos indiretos dos diferentes regimes terapêuticos usados no tratamento do mieloma múltiplo (MM), sobretudo na população de doentes em recaída/refratários (R/R). Assista ao vídeo com as declarações do especialista. No rescaldo da sessão “Desafios atuais no mieloma múltiplo em recaída ou refratário”, promovida pela Takeda no dia 31 de maio, o Dr. Henrique Coelho, diretor do Serviço de Hematologia do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho (CHVNG/E), explicou que “o estudo”, conduzido pelo CHVNG/E, “procurou aferir o impacto económico da administração de terapêuticas triplas no MM”, através de uma avaliação mais detalhada dos custos indiretos, que raramente são contabilizados nestas análises económicas. “Neste momento, o hospital considera apenas o custo direto do fármaco e, mediante esses números, faz uma avaliação do impacto anual com determinado esquema de tratamento”, explicou o Dr. Henrique Coelho, considerando que este é, habitualmente, “um método com diversas falhas”, porque o cálculo não incorpora todos os custos (nomeadamente indiretos) associados à terapêutica. “Será necessário incorporar os custos indiretos do tratamento, nomeadamente as deslocações, o material gasto por enfermeiros e farmacêuticos e todo o tempo que é despendido pelos profissionais de saúde”, contabilizando-se, ainda, “os respetivos honorários”. Por tudo isto, “facilmente se compreende que as terapêuticas endovenosas vão exigir um espaço maior no Hospital de Dia e, sobretudo, mais recursos humanos, fundamentalmente enfermeiros e farmacêuticos”, fundamentou. Em comparação dos esquemas orais, “o número de administrações feitas pelo Hospital de Dia é significativamente superior com os esquemas endovenosos”. “Basicamente, a separação entre terapêutica endovenosa e terapêutica oral reside na deslocação ao Hospital de Dia. Nesta análise verificou-se que, ao longo de dois anos, com os esquemas endovenosos o doente terá de ir ao hospital 34-96 vezes, enquanto no esquema oral terá de se deslocar apenas 24 vezes”, clarificou o Dr. Henrique Coelho. “Só em termos de deslocações (num período de dois anos), a terapêutica oral, que implica uma deslocação mensal para consulta médica e levantamento da medicação, envolve custos na ordem dos 500 euros, ao passo que um regime endovenoso envolve um gasto de 2500 euros”. “Em relação ao material, os custos podem rondar os 4500 euros, num período de dois anos, em comparação com as terapêuticas orais que não implicam este consumo”. Quanto aos resultados, este estudo demonstrou que, na generalidade, os tripletos “trazem uma carga de administração logística considerável”, com exceção do ixazomib + lenalidomida/dexametasona (tripleto de administração exclusivamente oral usado no MM R/R), que “não aportou acréscimos de tempo de administração ou de custos face ao dupleto lenalidomida/dexametasona (Rd)”. “Os regimes exclusivamente orais (Rd, Pd, IRd) versus regimes contendo fármacos de administração injetável (DVd, DRd, KRd ou Kd) permitem diminuir o número médio de idas ao hospital por ciclo, além de reduzirem o tempo de ocupação do cadeirão do Hospital de Dia e o tempo de preparação da medicação pelos serviços farmacêuticos”. Em relação aos tripletos de base Rd, verificou-se que “IRd reduz o tempo gasto pelo doente (em deslocações, tempo de consulta com médico e triagem da Enfermagem, permanência no hospital e tempo nos Serviços Farmacêuticos) em 93% versus KRd e em 88% versus DRd”. Adicionalmente, o estudo revelou que IRd “elimina totalmente o tempo e os materiais gastos pela Enfermagem em contexto de hospital de dia”, além da redução concomitante do tempo gasto pelos serviços farmacêuticos (preparação e dispensa). Por outro lado, confirmou-se “uma redução de 74% das deslocações ao hospital com o regime IRd versus KRd, e em 48% versus DRd”. Em conclusão, o Dr. Henrique Coelho lembrou que “a decisão clínica deve ter em conta aspetos de eficácia e segurança, mas também de conveniência de administração, a preferência do doente, e os custos indiretos que acarreta para o hospital”. Este foi, aliás, o objetivo desta análise, que permitiu “quantificar alguns custos indiretos associados à utilização de diferentes regimes terapêuticos usados no MM R/R no CHVNG/E”.